- E não és senão um demais uma enzima do acaso que podre volta para o cais por se ter esgotado o caso -
E o caminho que fizeste é o traçado pelos teus pais, pelos pais dos teus pais e tantos pais que jamais saberás os teus.
Até chegar a Jápeto - que dorme nos braços de Hades, que é correctivo do Caos -
- E não foste que artefacto uma lousa com sinais ténue faísca do facto donde a causa era demais -
És filho de Géa como a cobra, o olho-de-boi e o escorpião, como os indómitos insectos; o teu espelho feminino e os calhaus que cobrem a tua podre Pandora
- E não és que uma coisa metamorfoseada em banal uma régua que em ti poisa ínfima virgula num jornal -
És filho de deuses se fores filho de antigos, que foram filhos de antigos, e eram deuses; farás deuses como te fizeram. És homem-deus, como os deuses foram homens serás antigo, como os antigos foram deuses
A tua existência espalha-se no Chronos, de metamorfose em metamorfose, segundo a sina das três Graças.
Se és filho de antigos, como os antigos, és idiossincrático; marinheiro ou fura-vidas, juiz ou vinhateiro.
E a tua irmã é a deusa do sol, da poupança e da exuberância, da beleza e da discrepância com quem casarás e farás deuses modernos que advirão antigos, para aqueles que são modernos.
Que serão deuses e deusas, que advirão ovos de Pandora e darão lugar a outros deuses, até mais não haver ecos, na caixa de Pandora.
Que perderia a graça, se mais houvera.
Se és antigo, filho de antigos, tão antigos, que as tais Graças; Eufrosina, Aglaé e Tália, que eram as deusas do banquete, da dança, de todas as diversões sociais e das belas-artes. Que eram tuas antigas mães.
És antigo filho destas graças.
Então és filho de antigos, imortal, pai e mãe.
Deus filho da antiguidade.
Montefrio (Fernando Oliveira)